terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sobre o Porto Turístico e Não Turístico


Quando digo a algum conhecido que sou do Porto e sempre vivi no Porto perguntam logo "Mas vives onde? Em Matosinhos, Gaia..." e quando digo que passei a maior parte da minha vida mesmo no centro da cidade a reação é sempre a mesma "Isso deve ser espetacular, tanta movida, tanto sitío para ir, tanta coisa para fazer". Pois, mas nem sempre foi assim. Existiu um Porto muito pouco turístico não há muito tempo.



Cresci na zona que agora é conhecida por todos, a zona onde encontramos todos os bares e restaurantes da moda. Sim, esta zona era, há uns 25 anos atrás, uma das zonas mais comerciais da cidade. A Rua de Cedofeita, onde cresci, tornou-se rua pedonal devido ao forte comércio que por lá habitava, eu própria desde muito cedo que vivi os loucos dias de Natal numa dessas lojas, que por acaso era dos meus avós, trabalhava-se desde muito cedo e pela noite dentro. As lojas nunca estavam vazias. Das lojas que existiam nessa altura são poucas as que subsistem.

As escolas eram na sua maioria no centro da cidade, o agrupamento que frequentei no primeiro ciclo era composto por 5 escolas primárias, todas elas sobrelotadas. Hoje, existe apenas uma dessas 5 e tem vagas.


A Praça de Lisboa, agora um ponto turístico que ninguém pode perder, um investimento de milhões para fazer esquecer aquilo que um dia surgiu como uma grande zona comercial, um centro comercial ao ar livre, uma aposta diferente numa cidade que vivia do comércio tradicional. As lojas fecharam e até o restaurante duma das maiores cadeias de fast food que aí existia acabou por não resistir à debandada das gentes do Porto para fora da cidade.

O Porto ia morrendo. Vivia no Porto quem não tinha dinheiro para ter casa nos arredores do Porto. As casas eram velhas e degradadas. A cidade estava cada vez mais abandonada. Foi-se transformando numa cidade de serviços. 

Eram muitos os amigos que "migravam" para Lisboa, a capital, onde teriam emprego certo. O Porto do abandono era cada vez menos uma cidade apetecível para viver.

Apenas a Rua de Santa Catarina se foi aguentado ao longo dos anos e afirmando-se como a rua mais comercial da cidade, para isso muito contribuíram as grandes cadeias de retalho que aí se fora, instalando.

Não havia animação na cidade, muito menos animação de rua. As grandes casas de espetáculos foram-se aguentando nem sei bem como. Na altura do Porto2001 capital da cultura eram enchentes atrás de enchentes sempre que havia alguma coisa no Porto. Não só pelas iniciativas em si, mas pela novidade. Ali não costumava haver nada. Aos fins de semana não andava ninguém na cidade, ao final da tarde toda a gente corria para fora da cidade.

A vida noturna da cidade acontecia longe do centro, na zona industrial. Um dia sem se perceber bem como começaram a surgir bastantes bares na zona das Galerias de Paris, uma rua praticamente abandonada, sem habitação e muito pouco comércio. As pessoas que os frequentavam eram de uma faixa etária diferente do que a noite da zona industrial nos tinha habituado. Foi-se criando um ambiente simpático de vida noturna pela rua, semelhante ao encontrado em Lisboa no Bairro Alto ou em Barcelona nas Ramblas.


O turismo começou a crescer, bendita Ryanair que trouxe gente a esta bela cidade. Em todo o lado surgiram cafés, bares, restaurantes. As lojas ganharam nova vida. A cidade estava novamente viva.

As casas foram reabitadas, algumas reconstruídas, outras remodeladas, outras convertidas em apartamentos turísticos ou hostels. Os preços são agora bastante superiores ao que se encontra fora da cidade, mas a qualidade nem sempre é equiparável. Fica um gosto amargo a quem, como eu, cresceu nesta cidade e aqui gostaria de ficar para sempre.


Nasci no Porto na sua época de maior movimento, em que o comércio existia por todo o lado. Vivi o Porto quando nada existia em lado nenhum, quando a cidade era uma cidade fantasma. Vivo o Porto turístico que tanta gente cá trás. Gosto deste Porto turístico, desta nova vida da minha cidade.

Agora e Sempre sou do Porto. Ponto.

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